Para falar deste tema, vamos contextualizar primeiro de que osso estamos falando. A patela (rótula) é um dos ossos que forma o joelho e que está localizado na sua parte da frente. Ela tem como uma de suas principais funções, facilitar o trabalho que a musculatura da coxa tem para esticar o joelho. Além disso, a patela é o maior osso sesamoide do corpo humano, e tem a cartilagem mais grossa (espessa) dentre todas as nossas articulações, chegando a cerca de 7 milímetros de espessura.
A condromalácia pode acontecer em outras articulações, mas é no acometimento da patela que ela costuma ganhar bastante importância no nosso dia a dia. Esta patologia acomete com maior frequência mulheres, principalmente entre a segunda e terceira décadas de vida, sendo observada em atletas de nível profissional, esportistas amadores e até mesmo pacientes obesos e sedentários.
(Figura 1)
A condromalácia é o amolecimento anormal que acontece na capa de cartilagem que recobre o osso da patela. Isso pode ser o resultado de uma lesão traumática específica que é responsável por desencadear o processo de desgaste, ou ser o resultado de microtraumas de repetição por sobrecarga em uma patela que não está com seu encaixe normal. Este desalinhamento pode ocorrer por uma série de motivos. Este amolecimento, em alguns casos pode progredir e gerar fissuras ou fragmentação da cartilagem de tamanhos variáveis, até o ponto em que toda a profundidade da cartilagem seja acometida, levando à exposição do osso subcondral, que é o osso que sustenta essa capa de cartilagem.
Os pacientes com condromalacia podem apresentar uma série de sintomas, que podem envolver a queixa de dor na região anterior do joelho, principalmente para atividades que aumentem a pressão sobre a patela:
(Figura 2)
Além da dor na região anterior do joelho, podemos encontrar inchaço local, assim como certa rigidez articular e estalidos (crepitações) durante o movimento de dobrar e esticar o joelho, que podem ser dolorosos ou não. É comum também o paciente apresentar falseios, pois o desuso muscular reduz a força muscular da coxa. Conforme a lesão progride, é possível que o paciente apresente piora do quadro clínico, com dor mesmo ao repouso e alterações da marcha.
Se você apresenta sintomas no joelho de uma dor na sua região anterior, dor ao subir e descer escadas, ao se agachar, ajoelhar ou permanecer com o joelho por muito tempo dobrado, é recomendado que você passe por uma avaliação com um médico especialista. Este realizará sua avaliação por meio da história clínica e exame físico, além de solicitar exames complementares para direcionar as possíveis hipóteses diagnósticas.
Exames como a ressonância magnética permitem identificar e, quando presentes, estimar a localização e extensão de uma lesão na cartilagem patela, bem como quais as alterações que esta condição já provocou no osso abaixo dessa “capa” de cartilagem. Caso se confirme a hipótese de condromalácia da patela, esses exames permitem também classificar a lesão da cartilagem em graus, sendo:
O tratamento da condromalácia da patela, via de regra, é não-cirúrgico. As principais estratégias que utilizamos para isto envolvem o controle da dor com repouso inicial, o uso de analgésicos, orientação quanto às atividades ou gestos de alto impacto que devem ser evitados para diminuir a sobrecarga na patela, assim como a orientação da maneira mais adequada para realizar o fortalecimento dos grupamentos musculares necessários.
É sempre indicada a avaliação e acompanhamento por uma equipe de Fisioterapia especializada, que trabalhará a fim de corrigir e prevenir os fatores que estão favorecendo a sobrecarga. O uso de medicações condroprotetoras (glucosamina e condroitina) e de infiltração com ácido hialurônico (viscossuplementação) podem trazer algum benefício ao paciente, principalmente associada às demais medidas descritas acima, mas não devem ser utilizadas como monoterapia.
A cirurgia na condromalácia da patela só é indicada para casos selecionados em que houve a falha do tratamento não-operatório, após um período mínimo de seguimento pelo cirurgião de joelho e pela equipe de fisioterapia, caso existam alterações anatômicas do joelho que foram identificadas na avaliação médica. Na ausência claras indicações operatórias, a realização de um procedimento cirúrgico pode não só deixar de melhorar o sintoma do paciente, como agravar o problema inicial apresentado.